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Regresso ao Passado

Fiz asneira. Da grossa. 
Vá, talvez não tenha sido muito grave aos olhos dos outros, mas para mim é. 

Li o meu blog antigo - de 2011 a 2015, atualmente privado. De fio a pavio. Relembrei tudo. Revivi tudo. Olhei para trás e pensei para mim: "Meu Deus, como estás mudada!" e ao mesmo tempo "Rapariga! Estás tão igual!"

Penso tantas vezes em escrever um livro. Bastava ser um ano da minha vida. Poderia bem detalhar o ano 2013 que esse foi mesmo um ano digno de livro! Devia publicar todos os meus pensamentos dessa altura. 

Devia falar sobre como me senti tão feliz numa pensão rasca com trolhas e sanita partilhada! Como vi a quantidade infinita de roupa, malas, sapatos, bijuterias dentro de sacos e olhei bem dentro de mim e vi o quão fútil e mesquinha era! - tinha me separado e saído de casa nessa altura. 
Devia falar sobre como me senti livre mesmo quando não tinha sequer onde guardar comida ou até mesmo onde aquecer o leite! (a varanda - com neve - era o frigorífico)
Devia falar sobre como cresci nessa altura! Como aprendi. E como cometi mais uns 547 erros mas pronto, aprendi também com eles!
Devia falar sobre todo o autoconhecimento dessa altura. O crescimento pessoal da pior maneira possível - mas muito necessário. 
Devia falar sobre o divórcio indesejado por parte dos dois mas que seria inevitável tendo em conta toda a minha assustadora imaturidade, com 25 anos. 

Hoje. 
Hoje olho para trás. 
Observo tudo como se aquela Ana não fosse eu, mas outra mera pessoa. 
Hoje. 
Vejo tudo do lado de fora. E sinto compaixão. 
Sinto carinho. Sinto quase até, saudade...

Eu era encantadoramente rebelde. Dificílima de controlar e/ou de agarrar. 
Claro que se apaixonavam! Esta minha liberdade de mente, corpo e alma ainda existe hoje, com os meus ricos e bem experientes 33 anos de vida! Mas naquela altura tudo parecia tão mais fácil...

- Não tenho nada de comer. E quê? Pagas tu o copo? Saio na mesma! Os cigarros cravam-se. 
- Doem me os pés na discoteca. Descalço-me e não paro de dançar. 
- Estou sem dormir. Vou trabalhar de direta! Mas vou! 
- Falo com toda a gente. Danço com toda a gente. Rio-me com toda a gente. 
- Festa! Festa! E mais festa! Vou a todas! 

E depois... em "casa". Nas várias casas que tive nessa altura. Acho que mudei de casa umas 5 vezes nesse ano! Sozinha. Só eu e a solidão. E outras companhias às vezes... mas maioritariamente sozinha. E era aí que eu era eu.  

- Lidando com a minha ansiedade pela primeira vez. 
- Suportando os ataques de pânico porque não me importava de morrer. 
- Aprendendo a gostar da trovoada mesmo sozinha em casa. Escondia-me na janela só para poder ver os raios cheia de medo!
- Fazendo mil contas ao dinheiro que acabava seeeempre pelo dia 17. 
- Limpando a casa religiosamente todos os dias. Estive obcecada com isso algum tempo. Precisava de ter tudo limpo!
- Aprendendo a ir às lojas e não comprar nada. Dando conta do quão consumista era e a lutar por mudar isso. 

Numa das casas que vivi, quando ficava sem dinheiro, ia ao supermercado em baixo pedir a fruta que supostamente iriam deitar fora. Comprava tudo em promoção por baixa validade. Hoje em dia, detesto groselhas de tanto comer nessa altura - sempre a partir do dia 17.

Mas são estas experiências que me trazem até aqui. São textos e textos nesse blog onde relembro tudo. Detalho tudo sem medos nem tabus. Aprendia a lição e cometia um erro novo. Saboreava cada momento da minha vida. Fosse bom ou mau. Hoje em dia ainda o faço mas não da mesma maneira. 

Hoje. Olho para trás e sinto que quero continuar a ser aquela menina encantadoramente rebelde. Só que mais responsável e crescida. Mas rebelde na mesma. Só que com mais juízo. Mas rebelde sempre. 

Estamos em 2021 e estou em Viana do Castelo. Na cidade onde nasci.
Voltei a casa depois de mil e uma viagens. Trago comigo uma bagagem muito muito muito pesada. Mas carrego-a com todo o Amor possível. 

Porque é minha. É a minha história. É a minha essência. Não me orgulho de tudo. Mas não me arrependo de nada. ❤

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