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Meditar cura corpo, mente e alma

"Deve sentar-se a meditar durante vinte minutos todos os dias, a menos que esteja muito ocupado. Nesse caso deve sentar-se durante uma hora."
Proverbio Zen

Vivemos entre o "tenho medo" e o "isto não é nada"

Estamos a viver uma pandemia. É um facto. 

Estamos num capítulo da História mundial onde precisamos de ter os cuidados máximos connosco e com os outros. Precisamos de ser muito cuidadosos nesta fase crítica que o Mundo está a passar. 

Todo este stress faz com que possamos perder o nosso equilíbrio emocional. Seja com medo do vírus, medo de ser contagiado ou contagiar, medo da doença, medo do medo. Estamos atualmente a viver com medo. E este medo também nos coloca numa posição mais frágil e vulnerável. Sendo isto tudo uma bola de neve, cabe a cada um encontrar o seu ponto de equilíbrio e proteção. 

Cada um de nós deve proteger-se.
Cada um de nós deve manter o distanciamento por mais que custe estar longe da família ou dos amigos.
Cada um de nós deve usar máscara na rua pois não sabemos quem passa ao nosso lado.
Cada um de nós deve ceder a passagem nas ruas estreitas. 
Cada um de nós deve evitar ir para a esplanada. 

Eu sei que nada disto é fácil. No entanto também vejo o outro lado... Trabalho no meio da avenida principal da minha cidade e vejo umas pessoas aglomeradas e outras a fugirem desses mesmos aglomerados. As pessoas vivem, trabalham, levam os filhos à escola, fazem compras. O Mundo não parou mas estando numa fase tão agressiva e desconhecida como esta, as pessoas deviam ter ainda mais cuidado, pelo menos na rua. 

Com o solinho de inverno que tem estado, algumas pessoas inconscientes vão para a esplanada, sem máscara, sentam-se umas ao lado das outras e conversam como se nada fosse. Eu já não frequento esplanadas! Posso tomar um café rápido, mas não faço sala em lado algum a não ser em casa. 

Tenham cuidado por favor! Isto não está para brincadeiras. Enquanto não soubermos o que isto é realmente, não vale a pena facilitar. Fiquem em casa! 

Viver com Dúvida gera Medo

Não ia escrever sobre isto mas acho necessário desabafar sobre esta "nova realidade". E com os casos a aumentar em Portugal, eu também começo a ficar mesmo preocupada!

Não sei o que é a Covid19. Não sou especialista em vírus e não sei de onde vem isto, como se propaga e quando poderá acabar. Procuro no Google a simples palavra "coronavírus" e sou bombardeada de informação assustadora e variada. Não há ainda nada concreto que explique realmente o que é esta "coisa" e como se combate.

Uns dizem que é uma guerra, outros falam de influência política, outros dizem simplesmente que "foi sem querer" ou "foi um animalzinho na China"... 
Não sei. Não percebo nada. Mas a verdade é que toda a gente está com medo. Eu também. 
O Mundo está em pânico. As pessoas estão preocupadas. Vivemos em constante alerta e ansiedade generalizada. E os casos têm tendência a aumentar...


No meu caso, tenho uma mãe com problemas respiratórios. Uma mãe que, mesmo antes da existência deste vírus, toma a vacina da gripe e fica internada no hospital. (mas tem sempre de tomar a vacina...todos os anos!...)
Tenho uma mãe com um pseudo-hospital em casa - desde nebulizadores, bombas, Atrovent, oxímetros e afins. Tudo nomes estranhos que eu já conheço de perto... Daí esta pandemia me assustar ainda mais. A mim e a todos em casa. 

Todos sabemos que a mamã é a pessoa mais de risco da família e tratamo-la com todos os cuidados sem a deixar sair muito de casa ou apanhar frio. Ainda é nova, tem 62 anos, mas tendo em conta o historial anual de idas ao hospital por causa de simples gripes, ficamos com o coração nas mãos caso apanhe algo mais complexo como este vírus que não se entende ao certo como vem ou como vai.

Viver com a dúvida se podemos ou não contrair este vírus é quase tão grave como estar infetado. Viver com o peso de podermos contagiar quem mais amamos é quase como andar com uma granada nas mãos diariamente. 

Ficamos paranoicos. Lavamos as mãos 557 vezes por dia, fugimos das pessoas na rua, andamos pelas quelhas para não passar por ruas mais movimentadas... 
Todos estamos com medo. 

A questão que coloco é: como saber? 

Como podemos saber se realmente estamos a proteger nos da forma correta? Ler os conselhos da DGS chega? Usar máscara e lavar as mãos chega? 

Já não saímos, já não jantamos fora sem ser na esplanada e longe de todos...
Fomos de férias os 4 para um sítio escondido. cheio de cuidados redobrados, onde não havia muita gente para fugirmos da confusão... até quando isto? Quando vai acabar? Quando saberemos ao certo que realmente nos estamos a proteger? Quando poderemos voltar a ser livres?

Mais info: 
SNS - DGS para aprender 
DGS para tentar cuidar 
Google para confundir

Vai correr tudo bem. É o que dizem... 
A.V. 

Outubro

Hoje é dia de soprar canela... 💨

Que Outubro seja leve... 🍂🎃 

Cuidem-se por favor!

Beijos. 
A.V.

Felicidade Clandestina - Clarice Lispector

"Eu ia andando pela avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade. Não era tour de propriétaire, nada daquilo era meu, nem eu queria. Mas parece-me que me sentia satisfeita com o que via. E tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso "fosse mesmo" o que eu sentia — e não possivelmente um equívoco de sentimento — que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre. E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos. Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contiguidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admito e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim? 

Eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado podia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? No rato? Naquela janela? Nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais. Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar — não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele — mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação. 

Mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria — e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. E porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. E porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. 

Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco BC tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? 

Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."
Perdoando Deus - Clarice Lispector