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“Se você não existisse, que falta faria?”

Hoje decidi ver um excerto de uma palestra do Mário Sérgio Cortella. Ora este senhor professor Mário é um filósofo, escritor e professor brasileiro. Basicamente é um génio a falar. A primeira vez que o ouvi falar foi no filme “Eu Maior”, “um filme sobre autoconhecimento e busca da felicidade onde foram entrevistadas trinta personalidades, incluindo líderes espirituais, intelectuais, artistas e desportistas” (para ver no YouTube aqui- aconselho vivamente).

Vi então um excerto de quase uma hora e meia da palestra “Qual é a tua obra?”. Não sei o que me fez abrir aquele vídeo. Acho que a pergunta inicial fez-me pensar: “Se você não existisse, que falta faria?”… Comecei a ver em busca de uma resposta rápida. Achava que não iria conseguir ficar uma hora e meia a ouvir um monólogo mas na verdade…fiquei. Fiquei e valeu muito a pena.

Toda a palestra tem a ver com a nossa “obra”. Mas que obra é essa afinal? A obra é aquilo que deixamos quando partimos. A obra é o nosso caminho nesta vida. É o que somos. Podemo-nos sentir um nada ou alguém que faz algo. Cabe-nos a nós decidir o que queremos fazer, ser ou deixar até ao final do nosso caminho.

Uma parte marcante para mim foi no início do minuto ’50, quando o Professor Mário fala do “Reino da Mediocridade”. Nesse momento ele comenta que sendo a esperança média de vida aos 75 anos e, se nós dormimos cerca de 8 horas por dia, estaremos a dormir durante 25 anos da nossa vida! Isto chocou-me! Primeiro porque eu adoro dormir e depois porque nos faz ver como dormir é realmente uma perda de tempo! No seguimento das médias comenta também que comemos cerca de 1.5kg de comida (solida, liquida e/ou gasosa) por dia. Ou seja, cerca de 42 toneladas de comida em 75 anos! E como seres humanos que somos, com as nossas necessidades fisiológicas, “largamos” cerca de 42 toneladas de excrementos em 75 anos! Pensando à grande escala… isto assusta!

Mas mesmo assim, o ser humano adora dormir, comer e “excrementar” usando graciosamente a expressão dele. E ainda assim queixa-se! Queixamo-nos de falta de tempo! Como nos podemos queixar de falta de tempo se gastamos em média 25 anos (!) a dormir? E mais outros anos a ver televisão? (isto para quem tem tv; eu pessoalmente não tenho)

Há famílias que dizem não ter tempo para os filhos ou para si próprios, mas têm tempo para se sentar em frente à televisão durante uma ou duas horas e ver outros seres humanos a dormir, comer e excrementar (fazendo uma grande crítica aos programas televisivos com pessoas ditas normais chamados de reality shows). E outros, que mesmo não tendo televisão, tem telemóveis e tablets e computadores que, mesmo passando horas entretidos com a vida dos outros, dizem não ter tempo para eles ou para a família.

Qual é a tua obra afinal? Que pensamos fazer afinal? Continuar as nossas vidas medíocres? Queixarmo-nos todo o tempo até estarmos no leito final, numa cama de hospital, a pedir ao médico mais uma hora para falar com o irmão que não fala há 10 anos? Ou com o marido nem que seja para dizer o quanto o ama? Citando o Professor Mário, “falam na partida daquilo que era importante na travessia.” Porque quando estamos vivos ou bem de saúde, limitamo-nos a viver a vida. Sem pensar na quão curta ela é.

Mas mesmo a vida sendo curta, nós temos é de não permitir que seja pequena. Segundo o professor, temos de nos perguntar ao longo da nossa vida: “porque fizeste o que fizeste?”; e também, “porque não fizeste o que querias fazer quando podias tê-lo feito?”

Segundo ele informa, a Regra 34 de São Bento diz: “É proibido resmungar!”.
Podemos discutir, debater e contrariar mas nunca, em momento algum, resmungar. Resmungar é o que faz o pessimista. O pessimista “espera sentado que dê errado”, citando o professor. Não se mexe. É medíocre. E um ser medíocre não tem caprichos.
Pois segundo o professor (e eu amei esta frase): “capricho é fazer o melhor na condição que se tem, enquanto não se tem condições para fazer melhor ainda”.

Quando perguntam então qual é a obra afinal, a resposta tem de vir de dentro. Temos de saber dizer que estamos a fazer o nosso melhor e não apenas o possível.
Independentemente das condições fazer sempre, mas sempre, o melhor que podemos! E é assim que fazemos a nossa obra.

“Quando você se for… e você vai. E eu também…que vai ficar?”

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