Comecemos pelo início: cheia de vontade de estar sozinha, cheia de planos futuros e cheia de estar em relacionamentos, eis que me aparece algo na vida. O que haveria de ser? Um homem claro. Porque eu digo que não quero ter mais ninguém, porque eu quero estar sozinha, porque eu desisto, porque eu renasço. E ele aparece. Porquê? Por que tem de ser assim?
Há quem me dissesse que é bom ter um amigo, um amigo íntimo. Mas não um namorado. Isso já não se usa. E na realidade, quando penso friamente no assunto, reparo que é isso mesmo que eu não quero. Um namorado.
Mas se pensarmos, também friamente no caso do “amigo-íntimo”, vemos que é exatamente a mesma coisa mas com outro nome.
Ora vejamos: um amigo íntimo é aquela pessoa com quem nós estamos. Um amigo íntimo é alguém com quem gostamos de estar, com quem convivemos mais do que outro amigo qualquer, é alguém que beijamos, gostamos mais do que os outros amigos, alguém com quem eventualmente possamos gostar de fazer amor, sexo, mimo e tal e coiso. Um amigo íntimo é isso mesmo. E não é que é o mesmo que ter um namorado?
Só se a diferença estiver em dar ou não as mãos. Só se a diferença for o facto de que não se chamará “amor” a esse amigo mas sim o nome dele. Só se a diferença é não avisar os pais que se tem alguém. Só se a diferença estiver no facto que, toda a gente nos vai ver, diariamente a conviver, porque há mimos que não se consegue esconder, há sempre um beijo roubado, há sempre uma palavra, mas "não, não somos namorados."
Mas isto não é exatamente o mesmo que namorar? Aliás, também há o fator da confiança. Do respeito. Da compreensão. Do ser fiel. (espero que um amigo íntimo também seja fiel, senão é um amigo-da-queca; são conceitos totalmente diferentes para tipos de amigo)
Um amigo íntimo é alguém que eu quero só para mim, que eu não partilho. Alguém com quem convivo, converso, mimo, troco carinhos e amassos. Ora então, eu apenas não quero chamar-lhe de namorado! É muito simples. Porque na verdade, é exatamente a mesma coisa.
Começa com uma boa amizade, depois vêm os beijos, depois o aquecimento para ver se funciona e depois a amizade especial que se cria e se torna um hábito. Hábito este que funciona como namoro, mas não é. Não é namoro. Somos só amigos! Até que, se der e se funcionar mesmo, se houver aquele baquezinho no coração mesmo forte que até dói… (adoro a descrição) E se não houver volta a dar, assume-se.
Mas isto só acontece passado muito, muito tempo. Quando já se conhece a pessoa.
E é lindo. E eu quero isto para mim. Mas ao mesmo tempo, tenho que ter cuidado com quem escolho, com quem quero ter esta amizade, porque eu sou muito maluca, muito paranoica e, por isso, ou me sabem aturar, ou estão completamente tramados!
Aprecio muito a liberdade num relacionamento mas, se estou num daqueles dias, que quero muito mimo, sou muito cola, sou muito chata. E só quero a pessoa para mim. Ou seja: imaginemos que essa pessoa naquele dia não está virada para isso. Como fico eu? Amuada, claro. Com vontade de o matar e esconder o corpo.
Mas esta sou eu. E quem conseguir aceitar isso, quem conseguir ligar comigo assim, caso-me. Porque essa é a pessoa ideal. Aquela que me aceita e sabe ver em que dia estou, como estou, o que sinto, o que preciso. Tem de saber tudo. Porque isso é o que me faz manter numa relação. Seja namorico, amigo íntimo, marido ou chamem-lhe o que quiserem. Estando ao meu lado, há que suar!
Então, até encontrar essa pessoa, eu estou barrada. Tapada pela cortina. Fria, com medo e sem conseguir entregar-me a 100%. Ao fim disto tudo penso: tenho alguém que me faz bem, que me sabe dar espaço, que me deixa ser livre, que sai a noite e que não dá satisfações. Perfeito!
Então de que tenho eu medo, afinal?
Que seja fachada. Que hoje seja bonito e ao fim de um tempo se transforme. É isso. Estou bloqueada e desconfiada. Porque só ao fim de meses é que conheci o outro. E vi o que ele era. E não era nada daquilo que eu achava. Porque primeiro aceitava-me, dizia que eu era especial, mas fumava, mas usava decotes mas gostava de sair à noite mas tinha muitos amigos mas convivia com os ex-namorados mas mas mas mas mas mas mas. Mas merda! Eu sou assim! Deixai me ser como sou, porra! (pausa para chorar e fumar um cigarro)
Não posso bloquear. Não posso esconder isto. Tenho que deixar sair. Tenho de conseguir ultrapassar isto. E não consigo. Como posso eu gostar de uma pessoa e ter medo que essa pessoa se transforme num monstro? Já me aconteceu antes. São muitos ex-namorados acumulados. São muitos relacionamentos falhados. É muita merda, são muitas experiências más. Sofrimento dor e culpa. Porque eu sei que também não sou fácil. Eu sei que é preciso um manual de instruções, que eu não tenho, para saberem como estou e adivinharem as temperaturas. E por vezes culpo-me de ser eu, aquela que está a falhar. Aquela que não sabe.
Um dia disseram me: "tu não sabes namorar”. Como assim? Namorar é gostar da pessoa como ela é. É aceitá-la, respeitá-la e acima de tudo, entendê-la.
Eu, antigamente, dizia uma frase, em inglês: “Don´t try to understand me, just love me”. Agora já não sinto isso. Já não é isso que quero. Eu quero alguém que me entenda. E que me ame como eu sou. Sei que é difícil mas ate lá eu prefiro estar sozinha! Para não ter mais desilusões. Quando tiver alguém que me entenda, que me aceite e que me conheça, aí sim, arranjo um namorado. Alguém que possa até, vir a ser marido! Um alguém com quem possa ser velhinha, que esteja sempre ao meu lado, sentado num banquinho do jardim a ver os netos a brincar na areia de um parque para crianças.
Até lá ainda tenho muito que percorrer. Ou pode ser que o mundo acabe antes disso."
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