Passei todo o mês de julho e agosto do ano passado a trabalhar e a cuidar dela. Meses duros. Muitas idas ao hospital. Muita dor. Muito desespero. Muito amor. Muito muito Amor mesmo.
Temos uma história juntas tão gira, que ela contava todos os dias a toda a gente antes de falecer. E acho que deve ser partilhada aqui em sua memória.
Fomos as duas para o Porto para ela fazer exames. Fomos juntas na ambulância num dia que por sorte, eu estava de folga e a filha dela estava a trabalhar.
Ela quis fazer um xixi grande. Sofria de dores constantes. Não podíamos parar na viagem. E ela não se podia mexer muito.
Eu... arranjando forças sabe-se lá de onde, peguei num lençol e consegui colocá-lo debaixo dela (que era bem forte) e ela lá fez um xixi deitada.
Com mais força tirei o lençol e pus de parte. Limpei-a. Cuidei dela. Dei-lhe tantos beijinhos naquelas bochechas boas! E aquele riso, aquela gargalhada que só ela sabia dar, ecoou pela ambulância que até o condutor achou graça ao momento.
Contou a toda a gente que eu a tinha posto a fazer xixi e eu que tantas vezes tinha feito, em pequena, xixi na cama dela!.. sempre com brilho nos olhos. Mesmo com dores sempre brilhou. A minha "Fada Mardinha".
No dia que faleceu não dormi lá em casa. Fui vê-la sempre e muitas vezes dormi com a filha dela para juntas cuidarmos e estarmos sempre alerta. Sabíamos que o momento estaria a chegar. E eu sabia que ela não estava sozinha. O meu padrinho sempre cuidadoso, não a largou nem um segundo até ao fim. E a filha sempre ao lado dela, despediu-se no último suspiro por todos nós.
Fomos acordados às 5.20h da manhã com uma chamada que já esperávamos mas que não queríamos receber. E tratamos de tudo e aceitamos que a Vida é mesmo assim. E ela seguramente estará tão orgulhosa de mim agora...
Ainda celebramos os 50 anos de casados deles todos juntos. Toda a família se juntou para celebrar. Todos nos unimos ainda mais. E ela ainda hoje me faz tanta falta...
Pedi lhes, ainda a minha madrinha estava viva, a cama deles. A cama onde eu dormia a sesta com ela. A cama onde nos deitavamos a ouvir "O jogo da Mala" com o António Sala na rádio. A cama onde o Amor Verdadeiro sempre existiu entre aquele casal que nunca se abandonou até ao fim. 50 anos e uns dias...
Agora... com as obras a decorrer... a minha/nossa cama fará parte da mobília da minha Casa. Aquela cama mágica vai ser o meu ninho. E por mais antiga que seja, será a mobília mais valiosa que terei em casa!
Estou tão orgulhosa. E ela também está 💜
Nota: não é fácil tocar neste assunto. Não é fácil escrever sobre isto. Mas hoje era o dia para isso. A aceitação que todas as coisas têm um início e um fim. Vivemos em ciclos. E temos de os aceitar.
Obrigada a quem deu incentivo 🙏
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